Soneto V - Carregado de mim ando no mundo

Carregado de mim ando no mundo,

E o grande peso embarga-me as passadas,

Que como ando por vias desusadas,

Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.



O remédio será seguir o imundo

Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,

Que as bestas andam juntas mais ornadas,

Do que anda só o engenho mais profundo.



Não é fácil viver entre os insanos,

Erra, quem presumir, que sabe tudo,

Se o atalho não soube dos seus danos.



O prudente varão há de ser mudo,

Que é melhor neste mundo em mar de enganos

Ser louco cos demais, que ser sisudo.


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