O Tonel das Danaides

Na torrente caudal de seus cabelos negros
Alegre eu embarquei da vida a rubra flor.
— Poeta! Eras o Doge o anel lançando às ondas...
Ao fundo de um abismo... arremessaste c amor.
Depois minh'alma ao som da Lira de cem vozes
Sublimes fantasias em notas desfolhou.
— Cleópatra também p'ra erguer no Tibre a espuma
As pér'las do colar nas vagas desfiou!
Depois fiz de meu verso a púrpura escarlate
Por onde ela pisasse em marcha triunfal!
— Como Hércules, volveste aos pos da insana Onfália
O fuso feminil de uma paixão fatal.
Um dia ela me disse: 'Eu sou uma exilada!'
Ergui-me... e abandonei meu lar e meu país...
— Assim o filho pródigo atira as vestes quentes
E treme no caminho aos pés da meretriz.
E quando debrucei-me à beira daquela alma
P'ra ver toda riqueza e afetos que lhe dei!...
— Ai! nada mais achaste! o abismo 05 devorara...
O pego se esqueceu da dádiva do Rei!
Na gruta do chacal ao menos restam ossos...
Mas tudo sepultou-me aquele amor cruel!
— Poeta! O coração da fria Messalina
É das fatais Danaides o pérfido Tonel!


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