Plenilunio

Além nos ares, tremulamente,

Que visão branca das nuvens sai!

Luz entre as franças, fria e silente;

Assim nos ares, tremulamente,

Balão aceso subindo vai...

Há tantos olhos nela arroubados,

No magnetismo do seu fulgor!

Lua dos tristes e enamorados,

Golfão de cismas fascinador!

Astros dos loucos, sol da demência,

Vaga, noctâmbula aparição!

Quantos, bebendo-te a refulgência,

Quantos por isso, sol da demência,

Lua dos loucos, loucos estão!

Quantos à noite, de alva sereia

O falaz canto na febre a ouvir,

No argênteo fluxo da lua cheia.

Alucinados se deixam ir...


Também outrora, num mar de lua,

Voguei na esteira de um louco ideal;

Exposta aos éolos a fronte nua,

Dei-me ao relento, num mar de lua,

Banhos de lua que fazem mal.

Ah! quantas vezes, absorto nela,

Por horas mortas postar-me vim

Cogitabundo, triste, à janela,

Tardas vigílias passando assim!

E assim, fitando-a noites inteiras,

Seu disco argênteo na alma imprimi;

Olhos pisados, fundas olheiras,

Passei fitando-a noites inteiras,

Fitei-a tanto, que enlouqueci!

Tantos serenos tão doentios,

Friagens tantas padeci eu;

Chuva de raios de prata frios

A fronte em brasa me arrefeceu!

Lunárias flores, ao feral lume,

Caçoilas de ópio, de embriaguez —

Evaporaram letal perfume...

E os lençóis d'água, do feral lume

Se amortalhavam na lividez...

Fúlgida névoa vem-me ofuscante

De um pesadelo de luz encher,

E a tudo em roda, desde esse instante,

Da cor da lua começo a ver.

E erguem por vias enluaradas


Minhas sandálias chispas a flux...

Há pó de estrelas pelas estradas...

E por estradas enluaradas

Eu sigo às tontas, cego de luz...

Um luar amplo me inunda, e eu ando

Em visionária luz a nadar,

Por toda a parte, louco, arrastando

O largo manto do meu luar...

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